A cidade ficava cada vez mais pequena, sumia, engolida pelo horizonte. O vento empurrava lentamente, auxiliado pela corrente, a embarcação. Ludwig olhava para o ponto preto que antes fora a cidade. Adeus à loucura humana, aos sofrimentos, às brigas, à mesquinharia. É verdade que também era adeus aos doces sorrisos, mas ele, Ludwig, não tinha mais doces sorrisos para ver. Seriam semanas de paz, um silêncio absoluto, era ele, o vento, o mar, o céu, as nuvens, as estrelas, o Sol e a Lua. Os outros marinheiros não iriam importuná-lo. Sabiam que ele não queria conversar.

Um horizonte se ia e novos se abriam. A sorte estava lançada. Tudo podia acontecer. Piratas, tempestades, naufrágios… Ludwig estava para o que der e vier. Um pequeno sorriso nos lábios podia notar-se abrir espaço em sua face, enquanto admirava a imensidão azul.

Podia parecer que estava preso à pequena embarcação, mas estava livre. Livre para sulcar os mares, para ir onde quisesse, não estava preso as estúpidas leis de príncipes e bispos, não estava preso a estradas e pontes, não estava preso a terra. Poderia navegar até a linha do horizonte e dali para o céu. Bastaria a vontade, a liberdade.

Cortar as amarras que o prendiam à terra. Fácil. O havia feito com um sorriso (amargo, é verdade) nos lábios. Agora restava navegar. Para onde? Para onde iria? O que iria fazer aonde quer que fosse, mesmo que fosse ao céu, para que? O que faria depois de alcançar sua meta? Qual seria sua meta?

Ludwig imprecou. Não estava mais preso à terra, não estava mais preso a tantas coisas, tentava ser livre do louco mundo dos humanos, mas não conseguira se livrar, cortar as amarras, da essência de tal mundo. Podia estar no meio do mar, longe e livre de tantas coisas, mas continuava preso à razão. A razão, não conseguia fazer nada sem que entendesse o sentido do que fazia, sem que houvesse um motivo tangível.

Gritou ordens aos marinheiros. Rota para o porto mais próximo. Objetivo: vender as mercadorias que possuía no navio.