Motivos

Chovia. As rodas do trem deslizavam sobre os trilhos, deixando lugares, rostos e cheiros para trás, indo me busca de outros.

Olhei pela janela, vendo aqueles campos e montanhas, às vezes cortados por algum rio em cheia.

Havia uma pessoa na frente, e nos amamos no que se pode permitir o sol de amar a neve.

Mas fora isso havia apenas os meus pés apoiados no banco da frente e um vasto apanhado de músicas pra me fazer companhia, junto com as lembranças que deslizavam sobre os trilhos.

Voltei com os pés flutuando dessa viagem (e de outras também, como aquela que termina numa noite no metro da Pavuna, mas essa é outra história e terá que ser contada outra vez). E Michael já tinha me avisado do perigo das viagens, de se perder em labirintos (e olhos também são labirintos, ele disse uma vez, atrás de uma taça de vinho).

E ficou aquela sensação na memória, de que somos pequeninos como folhas, por mais que as vezes nos damos ares de grandeza. E nossas histórias são bonitas, trágicas e cômicas, levam ao riso, choro, raiva e esperança.

Porque afinal nossas histórias são um pouco como folhas de outono que caem dessa grande árvore que alguns chamam de Yggdrasil

Livio Basevi Rosa

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