-É hoje

-Tem certeza?

-Sim

-Hmmm

-O que foi?

-Não sei… é que… ah, sei lá

-Está com medo?

-Não é bem isso, é que… bom sim, tenho um pouco de medo e… e acho que pode dar errado!

-Olhe, é verdade que não nos preparamos muito, mas estamos com vontade, e somos um bom número, por meses passamos o tempo a procurar um local ideal e a especular o que e como fazer…

-Mas o que tem depois? Não sabemos o que há além, e se for horrível? Podemos morrer todos!!

-Nós cansamos daqui, dessa vida sempre igual. Queremos cruzar horizontes novos. Você não está cansado não? Aqui é a “lei do mais forte” ou de quem chegou primeiro. Mas nós todos juntos somos mais fortes e vamos decidir nosso destino, construir um futuro melhor para nossos filhos! Vamos desafiar o desconhecido, o obscuro e ver no que dá. Melhor do que continuar nessa situação de cabeça baixa e medo!!!

Não temos medo do desconhecido, pois ele será nossa construção! Venha conosco, vamos ver o sol nascer!!

-É, talvez você tenha razão… Vale a pena tentar, é o que nos resta!

Olharam para superfície azul lá em cima, os raios do sol brilhavam.

Logo consumou-se a ação. Centenas de anfíbios saíram das águas e botaram seus corpos na terra, aos gritos de “viva o amanhecer”. Pela primeira vez seres vivos ocupavam a terra.

Não demorou a ouvir-se a opinião dos lá embaixo. As vozes bradavam alto que era um absurdo, uma pretensão ridícula esses seres mal feitos, diferentemente dos nobres e perfeitos peixes, ousarem invadir a terra, propriedade de Deus.

Mas outras vozes sussurravam nos cantos, preparando outro desafio.

Os anfíbios não tiveram muita sorte. Conseguiram se estabelecer nas margens da água mas não puderam ir além, pois sua pele e todo o corpo secava e morria. Começaram a ter uma vida difícil, feita de ataques dos peixes e seus lacaios quando tentavam se alimentar na água.

Mas era tarde, em vários outros pontos do Grande Mar milhares de anfíbios saíram para a terra.

Os peixes endureceram as medidas. Nada saia mais da água. Trucidavam os que tentavam sair novamente, a vigilância aumentou, pois ora, se todos os anfíbios, os seres mais baixos e estranhos das águas, saíssem, quem iria alimentar os peixes?? Não podiam permitir essa afronta.

Demoraria mais alguns anos, mas a experiência dos anfíbios acabaria invibializada pela dificuldade de conseguir alimento, tendo que enfrentar os peixes nas águas e não podendo avançar para mais longe.

Seriam os répteis, descendentes dos anfíbios e de sua experiência, que iriam levar a cabo a ocupação e conquista da terra por seres vivos.

Com a pele seca e a habilidade de rastejar, mais a possibilidade de botar ovos para se reproduzir, conseguiram garantir um avançar seguro para todos os cantos.

Avançaram lentos mas cheios de certeza, deixando os peixes enfurecidos e derrotados para trás, em direção a novos horizontes. Carregavam no coração o sonho dos anfíbios, que haviam demonstrado ser possível sonhar, em um mundo livre.

Avançaram, e cruzaram a linha do horizonte, criando assim a possibilidade de existir, permitindo a existência de um futuro possível. Bastava imaginá-lo e juntar-se no esforço coletivo para transformá-lo em realidade