Yggdrasil
por livio rosa
Epilogo
Categories: Fabulas dos galhos

Pode parecer estranho assim, começar pelo final. Vocês pensarão que bom, então esta é uma daquelas histórias que começam com o fim e vão voltando no tempo. Mas não, também não é este o caso.

Esta história é só o final mesmo.

Isso aqui é só sobre o fim mesmo. Quando os personagens já terminaram suas aventuras e se olham uma última vez enquanto a trilha sonora toma conta de tudo e logo em seguida descem os créditos. E depois? Todo mundo já se fez essa pergunta. O que será que vai acontecer com os e as personagens depois disso? E ficamos a brincar de imaginar, de criar uma própria continuação…

Sabem, tolo é aquele que espera que os epílogos no final dos livros seja o fim. Onde termina uma história começa outra. Além do personagem principal, o que será que foi do motorista do ônibus que passou de relance e nem foi nomeado?

A vida é assim, a nossa termina, mas o que somos? Criamos nomes para nos identificar e separar um do outro, mas nossos nomes se repetem, os encontramos nos memoriais históricos, nas listas de execuções e nas listas de presença.

Nos contaram a vida de Napoleão, mas não a daquele jovem soldado que deixou sua casa para descobrir o ódio e a dor das feridas, o cheiro do sangue e o desespero das batalhas, quando achava que iria encontrar a gloria e ao voltar casar com a mulher que amava. Ele acabou voltando, mas a aldeia estava queimada e dentre os cadáveres estava a tal jovem.

Mesmo assim ele sobreviveu, matar-se seria digno de Romeu e Julieta, mas se ele suicidou-se o fez um tempo depois, com a cabeça e o coração atormentados por pesadelos e angustias.

E acreditem, esta história é mais emocionante e bela do que a de Romeu e Julieta ou a de Napoleão. Pois possui a possibilidade de ser real, de que poderia ser qualquer um de nos. Pena que não pude saber ela por inteiro.

Do exemplo ficam as sombras a rondar o presente em busca do passado que não encontravam mais.

Nos contaram como Aníbal atravessou os Alpes e venceu os romanos antes de ser derrotado por eles. Mas não nos contaram como ele morreu num pequeno reino da Ásia Menor, com os soldados romanos que o encontraram envenenado por si mesmo, rindo-se uma última vez pela última peça pregada aos seus inimigos de uma vida, que sempre tentaram alcança-lo sem jamais conseguir.

Muito menos nos contaram o fim que teve seu vencedor em Zama, Cipião dito o Africano, que tanto foi enaltecido pelo regime fascista italiano. Morreu de velhice, isolado e quase expulso de Roma, por ter tentado denunciar um escândalo de corrupção entre os senadores.

Parece que os livros de história não se interessam pelas mortes, pelos finais. Mas não se preocupem, hoje, no século XXI, quem não tiver o nome registrado nos anais estará incluído certamente em alguma estatística.

Enquanto a neve derretia ao sol descia a encosta da colina, com os sapatos fazendo barulho com as pedrinhas do chão que se arrastavam. Ao lado da pequena estrada havia cipressos, uma espécie de pinhos (da família das coníferas), troncos grandes e as folhas se erguendo para o céu. Na base de cada um havia uma lapide. Eram todos homens, e mesmo com as datas de nascimento serem bastante diferentes, as de óbito eram muito parecidas, entre os anos de 1914 e 1918. Ao lado de seus nomes havia uma sigla que significava a patente de cada um.

Hoje, o que muito importou no momento não importa mais, a patente. Os nomes se sobrepujaram ao cargo, pois aquelas lapides agora podem ser visitadas por um parente, um amigo, que ira em busca do nome e não da patente.

Isso é claro se souberem que o jovem soldado ou o tenente destemido morreu por aquelas paragens.

E quem dirá onde começa e onde termina?

Se o soldado que terminou ali ou eu que por lá comecei a caminhar?

Na dúvida nos resta o epilogo, o fim de uma história e o começo de outra. Como já cantavam os pássaros “quem conta um conto aumenta um ponto”.

cipressi-viale

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